
Amigos arquitetos e profissionais liberais de outras áreas – como a função deste blog, além de por a cara para bater, é também conferir um pouco de utilidade pública, compartilho com vocês, uma carta que me vi na obrigação de enviar para um cliente, explicando, pasmém, o porquê da cobrança de honorários na proposta comercial, ao invés de primeiramente, fornecer um lay out, obviamente grátis, para posteriormente ele avaliar se aceitava ou não a proposta. Como sei que colegas, mutas vezes, passam pelo mesmo problema, segue abaixo, a mensagem.
Já disse certa vez, numa outra postagem, que as pessoas que consomem o nosso trabalho, dividem-se em clientes e fregueses. Clientes, são bacanas, confiam, dividem e porque não dizer também ensinam. Já os fregueses…bem…
Caro Sr.
Entendo sua preocupação. Uma simples proposta contendo valores, é muito incipiente para traduzir o significado de um projeto e o que este irá representar em sua vida. Porém “infelizmente” é a única maneira que tenho para iniciar nosso contato profissional.
Como o sr. diz no seu e-mail, nunca trabalhou com profissionais de arquitetura. A partir disso, deixo aqui, algumas colocações:
A função de um bom projeto, bem como a presença de arquitetos no acompanhamento dos trabalhos além de assessorar o cliente, entre muitas outras coisas, é minimizar os custos de obra.
Baseado em minha experiência profissional, tenho consciência de que ao iniciar um processo de projeto e obra de arquitetura, estou lidando com sonhos, emoções, expectativas e também, talvez o mais importante, as economias. Para nós arquitetos, o resultado deste trabalho, só terá sucesso, quando chegar bem próximo do sonho do cliente e melhor ainda, superar suas expectativas.
Quando estabelecemos tal vínculo, fica claro que ambos- arquiteto e cliente – terão direitos e deveres. Nosso dever, com certeza, será estar ao seu lado sempre quando precisar, no que diz respeito a projeto e obra.
Passaremos bastante tempo discutindo soluções, apontando caminhos, jogando luz sobre nossas afinidades, e tentando minimizar nossas divergências! Muitos desenhos e croquis passarão por essas águas. Serão selecionados e apresentados, materiais, técnicas de trabalho e alternativas que julgo adequarem-se ao seu perfil. Por outro lado, não faz parte dos meus princípios profissionais impor nada ao cliente, mesmo porque quem vai ocupar o espaço, é o próprio. Podemos chegar a um denominador comum, sempre apontando prós e contras, porém o resultado final, é sempre a tradução das suas aspirações . Isto é que norteia o meu trabalho. É assim que enxergo arquitetura.
A boa arquitetura, se faz com muita conversa, criatividade, inventividade, inspiração e muita, mas muita transpiração. Ambos os lados precisam se conhecer .
Projeto é um aspecto do trabalho. É sonho. Obra, é um outro lado da moeda. É concreto. Ela é feita de barulhos e silêncios. Haverão momentos em que parece que nada está acontecendo. Tudo fica parado. Na espera. Em outros, o barulho é quase amedrontador, parece que ela, a obra, vai se voltar contra a gente. Cabe a nós profissionais, sermos os maestros dessa orquestra equalizando barulhos e silêncios, com harmonia.
Muitas vezes o cliente não tem a exata noção do que são as nuances de uma obra. Seja ela de pequeno, médio ou grande porte. A medida que ela vai se aproximando do final, mais complexa vai ficando, detalhes vão surgindo. Queira-se ou não, são esses detalhes que responderão por todo o sucesso do trabalho. Desde o primeiro encontro – o rabisco inicial – até o dia em que tudo estiver concluído. Uma obra mal acabada, faz todo o esforço de um ótimo trabalho, vir por água a baixo. Afinal DEUS está nos detalhes.
Mandei um portfólio, que dá uma pequena noção do meu trabalho, mas sei que isso não é tudo, cada caso é um caso e sempre novas soluções aparecem . Posso dizer, que os primeiros desenhos, serão a base sólida, de todo o trabalho que virá pela frente .
Levando isto tudo em consideração, posso dizer que um simples lay out junto com uma proposta comercial, sem nenhum vinculo profissional, seria muito pouco para avaliar até onde o trabalho pode chegar. Mesmo porque a sua expectativa estaria focada somente em um único e primeiro estudo. Nem sempre acerta-se na primeira tentativa, precisa-se de muita transpiração, como já disse, muitos desenhos. Um trabalho sem remuneração, não estimula o profissional.
Segundo a proposta financeira que enviei ao sr. está escrito o seguinte : Estudo – “As áreas estarão planejadas e indicadas em planta. As soluções serão discutidas, até que as alternativas propostas agradem ao cliente e se adéquem às suas necessidades. Para isso, serão apresentados tantos estudos quantos forem necessários, até a aprovação final”. Sinceramente, não conseguiria propor ao sr. isso, sem nenhum tipo de remuneração.
Desculpe se me alonguei um pouco, mas prefiro ser bem transparente caso venhamos a trabalhar juntos. Se isso acontecer, fico feliz. Espero que como até agora tem sido quase que uma regra em minha trajetória, o cliente se vai com o final dos trabalhos, mas em compensação fica mais um amigo.
Estou a sua disposição para qualquer esclarecimento.
Um grande abraço.