Arquivo de 8 de Janeiro, 2010

08
Jan
10

Lóki isso né?

Confesso que a primeira vez que vi uma apresentação dos Mutantes pela Tv, apesar de ser bem garoto, fiquei absolutamente seduzido e bastante intrigado. Era o festival da Record, 1967. Acompanhavam Gilberto Gil, e chegavam com um visual lúdico, cheio de atitude e informação.

O nome, Mutantes, que alias, foi dado por Ronnie Von, em virtude de um livro que lia à época, já dizia explicitamente a que vinham – criatividade, ousadia, mudança e transgressão. Meu inconsistente feeling dava um toque de que soprava naquilo tudo, um vento de modernidade. Entendi que a partir dali, nada seria como antes.

Coincidentemente, os Mutantes nasceram na Pompéia, assim como eu e grande parte do  rock and roll brasileiro que rolou na virada dos 60’s /70’s. Cedo, aprendi a conviver com aqueles seres excêntricos e apaixonantes – dois patetas e uma princesa – cheios de charme e com bala na agulha para bancar todas as suas ousadias. Muito antes de Caetano apontar na sua linda letra de “Sampa”, as belezas ocultas da cidade, eles já desfilavam suas “deselegâncias”, nada discretas por nossas esquinas.  Chegavam com a força de uma nave desgovernada, chocando-se contra a Terra, porém sabendo exatamente onde iriam pousar.

Antenados e com intuição aguçada, “mexiam” com maestria no mesmo caldeirão, um caldo bastante vigoroso, com pitadas de Vicente Celestino, Lígia Clark, Parangolés, bananas, Ângela Maria, Beatles, hippies, Mamas & the Papas, sweet London, moda, erudição, canções antigas com novas roupagens, experimentação e acordes dissonantes. Posso dizer: dava samba, ou melhor, rock and roll! Melhor ainda música da melhor qualidade.  Sem dúvida estava ali um cromossomo poderosíssimo na estrutura genética da Tropicália

Eu e meus amigos aguardávamos ansiosamente, eles subirem a rua, na sua Dirce, uma Kombi, pra lá de anárquica que os transportava, juntamente com seus equipamentos inovadores, para todos os lugares ao mesmo tempo. Era um delírio, pois respondiam à altura todas as micagens que fazíamos para eles.  Viravam crianças como nós e desapareciam rapidamente como um raio que rasga o céu do gibi.

Como meteoros, passaram num “zapt” imprimindo sua marca indelével no cenário musical brasileiro. Não permaneceriam juntos por muito tempo. Tomaram rumos diferentes e controversos.  Nitroglicerina pura. Pouco espaço para muito talento por centímetro quadrado.

Recentemente, houve uma tentativa de reaproximação, com uma veemente negativa da musa Rita. Deve ter lá seus motivos. Acho que ela estava certa, fotos, são para a posteridade, não devem ser alteradas, nem com toda a tecnologia á disposição, se é que me entendem… Se for para recordar, please, put yours old records on ! Aquilo que foi não volta mais. Pelo menos não com o impacto da novidade. Como era de se esperar, a magia não se repetiu.

Se não fossem brasileiros, talvez hoje, seriam reconhecidos mundialmente, e teriam o peso que tem para nós.

Lóki isso né? Mas esse papo já é outra história.




autor/proposta

josé luiz leone, arquiteto/designer ARQBAR = BAR : balcão+serviço rápido+amigos+ camaradagem+bate papo+ descontração+ circulação de informações+pessoas+ aprendizado+relacionamentos +parcerias+divulgação de trabalhos+ cumplicidade+novidade+ informação+arte+arquitetura+design

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