Cada um enxerga o mundo de uma maneira diferente, mas por pura comodidade, levamos para frente a história de que todos enxergam a mesma coisa.
Lá no fundo, sempre rola a seguinte dúvida: será que o caboclo aí ao meu lado, enxerga uma árvore do mesmo modo que eu? Aparentemente sim. Pois então, experimente colocar dez pessoas sentadas na frente de uma e pedir para desenha-la. Dez desenhos absolutamente diferentes, surgirão.
No final dos 70’s, Carlos Castaneda, propunha, entre meia dúzia de questões, “viajandão” no livro – “Uma estranha realidade “, a seguinte baforada aos discípulos do índio mexicano, Don Juan: Qual a diferença entre – ver e enxergar?
É óbvio que o enfoque era absolutamente esotérico, baseado em conhecimento de outras realidades, através de viagens à base de ervas alucinógenas. Quem quisesse ser moderno à época, não tinha outra alternativa a não ser embrenhar-se em suas paginas lisérgicas, discutindo o tema à exaustão. Tudo para chegar a simples conclusão de que sempre existe um outro olhar para tudo, um olhar além, inclusive com informações transcendentais, dependendo da veneta do observador ou da intensidade do farol de cada um. Outras convicções… outras crenças.
Mas que um bom par de óculos, nos faz enxergar a vida melhor, já não tenho a menor dúvida. Com o passar do tempo, nosso fiel escudeiro torna-se um apêndice indispensável, resultante de estranhas mutações oculares . Sem eles, somos capazes de sair por aí lendo livros de ponta cabeça. Vexame… Quando assumem a função de peças de design, valorizam o rosto, imprimem estilo e ainda nos conduzem com elegância em todos os lugares por onde circulamos. Luxo total.
Os escuros? Bem, esses são um assunto à parte. Deixo de pagar uma conta, mas não esqueço os meus. Com chuva, sol, frio, e porque não dizer à noite, sempre estou com eles – os indefectíveis óculos escuros.
Os de grau, comecei a usa-los depois de muitos e muitos anos de estrada. Confesso que não achei muita graça, mas como passaram a ser as mãos que me guiam por esse velho mundão, não tive outro jeito, senão sucumbir a eles. Quando os esqueço, fico à deriva. Um zumbi.
Óculos no rosto são capazes de imprimir outra identidade. Quem não tem o desejo de se disfarçar, virar outra pessoa? Mudar, ficar mais atraente? Clark Kent, já fazia isso na maior cara de pau. Crescemos achando que ele e super homem, definitivamente não fossem a mesma pessoa. Um simples par de óculos era o responsável pela dupla identidade. Sempre embarquei nessa viagem?
Óculos bacanas, que ficam bem em nossos rostos, fazem, não só com que enxerguemos o mundo corretamente, mas também com que os outros nos vejam melhor.
Se Fernando Pessoa e sua trupe de heterônimos, vivessem hoje, fico imaginando que disputariam à tapa com Elton John, as últimas novidades.
Talvez por falta de entregar-se ao amigo, pessoas passam pela vida vendo uma coisa e enxergando outra.
Sem querer, o nosso bom e velho Castaneda, tinha razão: enxergar ou ver, que seja com os olhos da alma.
As meninas, nossas eternas pupilas dançam e agradecem felizes no palco do nosso olhar, preservadas pela tênue lente de um belo par de óculos que as deixam ainda mais lindas. A paisagem fica menos embaçada e pode nos resgatar de uma inconveniente ilusão de ótica, seja física ou espiritual.
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